quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Eterno o beijo



E tu com um beijo me eternizas,
Escravizando o tempo,
Cobrindo de espanto os mundos.

Beija-me de novo
No arrepio das estrelas,
Na indignação dos estéreis deuses.

Acende meus lábios com os teus.
E no sufocar do desejo
Inspiremos inteira a eternidade.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

O que move as nuvens?







O que é que move as nuvens?
Dizem os poetas que o vento corre com elas
Como quem brinca com algodão doce.

Os cientistas, sérios e circunspetos,
Analisam convecções, topografias, frentes e convergências,
Processos adiabáticos.

Mas eu estou em crer que as nuvens
Se divertem à custa das metáforas dos poetas e
Se estão nas tintas para as fórmulas matemáticas dos cientistas.

Eu acho que elas correm atrás do teu sorriso.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Embriagar-te





Embriagados de sol,
Cantam girassóis no teu quintal.
A mim me encanta a Lua,
A noite e a tempestade,
E não sei cantar.
E no entretanto, os teus girassóis
Banqueteiam-se de luz solar.
Ai quem me dera embriagar-te de mim
Como o sol faz aos teus girassóis.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Pássaro?





Não nasceu pássaro.

Mas quis voar!
E enquanto os outros jogavam ao berlinde
Ele contava asas nas nuvens
E estou em crer que acreditava
Que a alvorada rompia vermelha e feroz no coração dos pássaros
E o sol se erguia com o primeiro piar.
Não lhe cresceram asas.
Mas quis voar!
E enquanto os outros aprendiam a soletrar e a cantar poemas,
Ele rimava alfazemas e colibris,
Marés com gaivotas
E corvos com a noite escura.
Não tinha bico, nem garras.
Penas? Cresceram-lhe no coração, não nos braços.
Mas quis voar!
E enquanto os outros mediam Q.I.’s
E médias para a universidade,
Ele alojava ventos no coração,
os ventos onde viviam os pássaros.
Madrugadas também.
As dos pássaros.
Passava os dias na falésia,
Os olhos no abismo das asas,
Não das pedras,
Onde um e outro voo lhe entrava na alma como um desafio.
À noite passava fome,
Escorraçado pelos semelhantes por se parecer com as aves.
Um dia, ao crepúsculo sobre o abismo,
Abriu os braços,
(como se fossem asas)
Para voltar para o ninho como os demais pássaros.
Passou um, rasando-lhe a testa,
E eis logo outro que o despenteou, convidando:
- Vem daí, irmão!
E ele foi. E voou!
Não tinha asas, não.
Não sabia.

Acolheu-o o mar, como se ele fora gaivota.
Todas as asas o vieram velar nessa noite.
Até os anjos que nunca acreditaram que pudesse voar.
A alvorada rompeu, vermelha e feroz, no coração dos pássaros
E o sol despertou com o primeiro piar.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Recomeço




















As finas mãos dos deuses poisaram pesadas
Sobre a minha cabeça.
Não me vieram fadar nem dar poderes especiais.
Cuspiram depois na minha face,
E com a sua saliva sagrada lavaram o medo.
Agora morro e renasço,
E em cada passagem pela minha escuridão,
Realinho o trilho e recomeço.
Alguns conhecem o caminho mas continuam perdidos.
Eu conheço a perdição, mas sigo o meu caminho.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Revolta


Os cravos esquecidos no chão
São a esperança deste povo que fenece,
E na boca das espingardas
O grito de raiva que ensurdece.
Na urgência da justiça,
Só murmúrios de fome e dor.
Acordem, flores pisadas!
Unam a voz às espingardas,
num único e forte clamor.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Lua Azul (I)



Lua,
Minha feiticeira nua,
Quem te mandou azular?
Embriagaste-te de céu,
Ou bebeste a cor do mar?

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Saudade



Quem me dera de novo
Aquele campo de urze e rosmaninho
Onde fui pastora e vagabunda,
Onde o meu pai dizia
Que havia mais verde nas pessoas.
E havia!

Quem me dera de novo
Encher os pulmões com os montes
E entre fontes e rebanhos
Enterrar os pés no húmus frio e fértil,
Manchar de amoras o meu vestido branco
E toldar o juízo com medronhos.

Quem me dera de novo
Banhar-me nua e inteira
Debaixo de inesperadas cascatas
Que saltavam penhascos delirantes
E vinham cantando,
Frescas e límpidas,
Pelas pedras abaixo.
Recantos que só as ninfas guardavam,
Onde o meu pai dizia,
Que à noite, nas fragas,
A água roubava os raios do luar,
Para brilhar no dia em filigrana de prata.
E brilhava!

Guardo nos olhos o verde e a prata
Que a saudade de meu pai teceu.
Era saudade!
Quem me dera de novo
Nos dias sombrios de tempestade
Em que a eternidade cabia inteira
No rugir do céu,
E havia promessas de vida
No cheiro da terra molhada.

Quem me dera de novo
O tempo em que a voz de meu pai se ouvia
E dizia coisas que nunca esqueci.
Nunca esqueci!

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Dizer-te numa frase (15 anos)

















Dizer-te numa frase seria deixar-te a meio.

Porque tu não és somente o meu sangue, o meu orgulho,

És um pedaço de alma que se soltou de mim em vendaval

E na luz dos teus olhos vejo a minha eternidade.




à B.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Sereia, Serei a...



São búzios verdes o que trazes nos cabelos?
Que cantas tu, sereia, em voz de azul enlouquecido
Que tão feliz fica a maré, só de te ouvir?
Cora-se o sol, incendiando longe o longe do teu mar.
E quando te vais com as ondas
Nada mais fica senão o teu perfume de algas e sal
E o manto crú de silêncio que a noite veste
e mergulha em mim.

Ser eu a fera





Ai quem me dera
ser eu a oculta fera
no escuro do teu olhar!
Ai quem me dera
o sonho breve, a quimera,
de eu em ti te encantar!


Asa eterna




Agora vou virar pássaro
E serei verde breve no longo azul,
Suspensa vida na lonjura sem fim.
Viagem sobre a espuma do sonho
Que a minha asa eternizou.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Rubras rosas




Foi o meu coração sangrando
que avermelhou estas rosas,
ou elas somente enrubesceram
com o teu beijo de despedida?

Rosmaninho no olhar





Devagar, devagarinho
eu divago no caminho
perdida no rosmaninho
que floresce no teu olhar.
No veludo dos teus passos
e neste nó feito de abraços,
eu deixo o amor chegar.

Amor na mesa de autópsia


Foto: Olhosgóticos


Em cima desta mesa expus a nudez do meu amor,
como um cadáver indefeso à espera da autópsia,
sem segredos nem esperança fiquei,
senão aguardando que chegasses,
me visses e me amasses.
Escureceu a vida e o vento passou,
levando consigo migalhas de mim,
tudo o que restou quando eu anoiteci.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Libera me



de trinity89luar



Com a ponta de teus dedos frios me enredaste.
Nesta Lua de silêncio, estéril e sombria, me exilaste.

Libera me.

Liberta-me do emaranhado de emoções em que me prendeste,
teia de orvalho densa e agreste que te veste o coração.

Libera me.


Anjo caído na sombra, que a ira de Deus petrificou,
espectro que o próprio inferno assombra,
e é tão somente o reflexo de quem eu sou.

Libera me.

Deixa-me ir, com os olhos vestidos de chuva,
partir no vento cinza que a alma escurece.

Libera me

Liberta-me da morte escura
que em teus olhos transparece.

Libera me

Porque enquanto me esquecias, Anjo perverso e ruim,
troquei minha alma com a tua no minguar desta Lua.

Agora, sigo em ti e tu em mim.



Nada do que escrevo te contém




















Nada do que escrevo te contém.
Nenhuma rima, nem metáfora,
nenhum ponto final te detém.
Porque tu és maior do que a palavra,
que o gesto ou a intenção.
Tu és a própria emoção,
alma ao rubro, vestida de coração.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Chuva





Cai,
cai,
chuva,
cai.

Pingo
a
pingo
cai
a
chuva.

Cai a chuva sobre a flor.

Gota
a
gota
a
flor
curva.

Está chorando por amor...

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Beijo de chuva à chuva




Pediste-me um beijo de chuva
e eu à chuva to mandei
e o que a chuva murmurou
a ninguém revelarei.

Pediste-me um beijo à chuva
e um beijo de chuva te dei,
outro com o vento voltou,
no coração o guardarei.

A Malvada




Deixei aberta a janela para o amor chegar.
Não, a porta não abri.
Porque o amor deve ser ágil e saltar obstáculos,
ter a vontade de chegar aqui,
ignorar vaticínios dos oráculos
e saber qual a janela por onde entrar.
Eis senão quando espessas e negras asas
me envolvem como brasas,
num abraço da solidão.
A intrusa chegou em minha casa voando,
e a mim me fez reclusa da escuridão.
Instalou-se na minha cama,
vestiu o meu melhor pijama,
meteu o nariz em tudo o que é meu
e à chama da lareira se estendeu.
Ronrona a meus pés como um felino,
confiante de que aceito este destino
e deixarei que me seque o coração.
Penteia-me os cabelos com desvelos
e dedos descarnados de paixão.
Gira à minha volta como traça na luz,
à solta no meu espaço,
entre um e outro abraço,
cuidando que é assim que me seduz.
Segue-me mansa e doce,
insinua-se como vampiro,
bem juntinho ao meu pescoço.
Mal sabe ela que eu conspiro,
que intento a rebelião
e já transpiro de irritação.
E neste á-vontade que revela
como se estivesse no seu lar,
a malvada fechou-me a janela,
talvez com receio de se constipar.
Vou corrê-la á vassourada
para que saiba como é indesejada.
Talvez usar um insecticida em spray
à laia de despedida,
pois que mais fazer não sei,
p'ra enxotar esta bandida.
Para não ser acusada de maltratar a solidão
(quem sentiria a sua falta, afinal?)
vou deitar-lhe Prozac no vinho
que bebe do meu cristal,
arrastá-la pelo colarinho
e pendurá-la no estendal.
Cá por mim, nesta noite tão fria,
pode bem morrer de pneumonia,
que eu só quero ver-me livre dela
e voltar a abrir a janela.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

As tulipas de minha mãe





Minha mãe gostava de tulipas.
Amarelas.
Ou talvez brancas.
São tristes as tulipas,
como era a minha mãe.
Corolas vergadas
pela breve vida,
tão pesada.
Porque choram as tulipas
como chorava a minha mãe?

E dizem que se fez ao mar...





Acreditei num sonho.
E um trono criei
para um rei.
Mas o meu próprio trono eu usurpei.

Ele chegou
sem corcéis nem paladinos,
somente uns olhos peregrinos
em busca de amor.

Nada pediu. Ousou.
Nada pediu. Conquistou.
Nada pediu. Tomou.

Mas não era meu esse rei
e o meu próprio trono eu usurpei.

Efémero esse reinado
em que cri e que criei.
Para um rei.

Nada lhe pedi. Tudo lhe ofereci.

Como chegou, partiu.
Dizem que se fez ao mar...
Levou-me o coração
na palma da sua mão.
Ahoy, ahoy, meu rei
detém o teu navio
que o meu pobre coração
não aprendeu a navegar.

Como chegou, partiu.
Nada me deixou ficar
senão estas mãos vazias,
eternamente frias.
E nunca mais ninguém o viu.

Dizem que se fez ao mar...

Nos olhos da minha filha





Nos olhos da minha filha
saltam meninas à corda
num campo de malmequeres.
E é tamanha a algazarra,
gargalhadas e euforia,
que as meninas dos seus olhos se espantam
e é nelas que despontam os sóis
que regulam o universo.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Círculo de fogo


Slice



Os deuses me lançaram no círculo de fogo
para me devassarem o mistério de ser.

Onde nasce o fogo,
eu ponho a vida,
e no espanto dos deuses menores e humanizados
o meu suícídio é um orgasmo de chamas
num sabbath de oração.

Morri ontem
e hoje eu morro,
e no jogo dos deuses-homens
regresso eterna, inteira e mulher
porque onde nasce a vida
eu ponho o fogo.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Alma gémea


Estejamos em paz (Beatriz Prestes)



Quando o céu ainda não tinha nome
e a Terra era apenas uma promessa,
chamei por ti da alvorada das estrelas.

Ainda os deuses dormiam no limbo
e a sua vontade não rasgava universos,
chamei por ti na madrugada dos tempos.

A voz se me perdeu nos ventos de Samsara
e na alma eterna tatuei o teu nome,
porque mesmo no silêncio mortal chamarei por ti.

Na tua sombra


osombrablog


Eis que tu chegas
e o silêncio abafa o mundo.
E é sob a tua sombra que o
meu espaço mingua.
Tudo tu preenches,
tudo tu és,
de repente,
tingindo de amor
o rubro coração.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Bene Ha 'Elohim


ponteoculta


Filhos da rebelião da luz,
de olhos postos no abismo,
centelhas de fogo que tudo alcançam,
que implodem e se consomem num só coração.


A queda das asas precipitou-vos na terra fria,
no ventre mais escuro.
Dos rostos de luz sobraram sombras vigilantes
que se escondem entre a obra de Elohim.


Força feroz e invasora,
essência dispersa da centelha divina,
criadores guerreiros ou magos celestes,
semente disseminada em segredo,
poeira cósmica dos Nephilim ancentrais,
filhos das estrelas que somos nós.

Quando eu escrevia poemas


colegioamparo


Enquanto acreditei que existias eu escrevia poemas,
aos teus olhos predadores, à tua boca invasora.
Tu eras o poema e eu respirava-te pelas palavras que escrevia.
Nos contornos do teu corpo desenhei metáforas.
A poesia nascia-te no ventre e escorria fluida e poderosa
dos teus lábios, onde eu, ávida, colhia cada rima.
E afinal tu não existes e eu não sei escrever.
A solidão é uma folha em branco.
A tua inexistência é dislexia onde as sílabas troçam de nós
e as palavras não fazem sentido.
A realidade sem ti é tão árida como a tua face em cada manhã.
E este vazio é sinistro, perverso e inútil,
como o ponto final onde me suspendo, louca à beira do abismo.
E afinal tu não existes e nunca leste os meus poemas.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

De mãos abertas


Viningsight


Aprendi a manter as mãos abertas,
palmas viradas para o céu,
para libertar o que não é meu
e apenas em mim pousou.
Para aceitar o que para mim vier
e em mim, porque meu,
quiser ficar.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

O meu anjo desasado




Eu nasci quando Deus dormia
e quem me fadou foi um anjo coxo e desasado
que só sabia cantar.
Não me assistiram fadas,
nem bruxos me enfeitiçaram.
Nem um só parou para me olhar.
Caí na vida, como pena
das asas que o meu anjo não tem.
Nunca Deus me viu,
porque dormia,
e o que nasce no sono do Deus não existe.
Continuo com esse anjo desasado
a cantar no meu ouvido,
às vezes desafinado.
Sinto-me capaz de caminhar
embalada nas suas notas,
ora harmónicas, ora dissonantes.
Fica sempre á minha esquerda,
inclinado,
substituindo o vazio de outro abraço.
De vez em quando ri-se,
o desastrado,
de mim e do mundo.
Até do Deus que ainda dorme.
Recolhe as minhas penas,
em segredo,
uma por uma,
apanha-as do chão.
Com elas, um dia voltará a ganhar asas,
mas será sempre o meu anjo coxo e trapalhão.
Seguimos os dois,
como bêbados amparados na tontura,
embriagados por esta vida
que nos aconteceu quando Deus dormia.
Vamos como água
por entre pedras e limos,
como vento correndo na invernia dos salgueiros,
ou vagabundos nas ruas de todas as portas fechadas.
Quem sabe, vamos como lágrimas presas
nos olhos de amantes abandonados.

Desasados vamos os dois,
em dueto,
sonho do Deus que ainda dorme.

Nada mais




E do amor
nada mais resta
senão um dia de Janeiro
frio e surrealista
em que acreditei
que vivia.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

A luz do meu dia


emphaticperspectives


Deixa-me ver o dia
com os teus olhos,
beber na fonte da tua boca,
colher do teu corpo
a líbido silenciosa.
Deixa-me as tuas mãos
fortes e sábias
e o silêncio rude
dos teus passos.
Deixa-me a tua
sombra esquiva
e a embriaguez soberba
com que bebes o mundo.
Deixa-me ver com
teus olhos,
para perceber
se já anoiteceu
ou se foste tu quem
roubou a luz do meu dia.

Catedrais


Reims


São teus olhos catedrais
onde me converti.

Teu coração o mosteiro
onde me recolhi.

O poema que entra pelos olhos do amado


negativodigital


Deixa que as minhas palavras te firam os olhos
como a claridade dum punhal de luz,
que o meu poema te espante e que
toda eu possa entrar em ti
e morrer devagarinho
no teu coração.

De mim nada



eptafios


De mim
nada tens
que saber
senão quem sou.
Que te interessa
perceber
para onde vou,
se tu és,
joio daninho
preso no chão.

O meu caminho é solidão.

Seguir-me
não podes.
Perdeste o alento
de saber caminhar.
Tenho por
companhias
a nudez do luar,
o assombro do vento
e as mãos vazias.

A vida numa parede


Spiderpic


Escorrem lembranças na parede da minha sala,
onde luzem as fotos dos já-idos.
A luz dos seus olhos pereceu
mas a alma lhes ficou naqueles retratos,
para iluminar as noites perenes de saudade.
E há entre eles uma moldura vazia
que me há-de acolher quando me for
e a alma se me tornar noutro luzeiro
na parede duma outra sala.

Reencontro


renyds.blogspot


Arde um incenso de bom augúrio na minha porta de entrada.
No ar, o perfume do murmúrio das fadas,
um luzeiro de estrelas guarda o caminho,
de urze e rosmaninho cobri a tua estrada.
A mim me vesti de branco linho e de espera,
e espero com a alma alvoroçada
por ventos de Primavera.
Vem, que é já noite na vida,
E de noite há espantos e medos,
há olhos que fadam os caminheiros,
E os invisíveis dedos da negridão
catam segredos do coração.
Para ti guardei o mágico ritual
da sagração dos amantes,
o reencontro final de almas gémeas errantes.
Cingir-te-ei num estreito e longo abraço.
O corpo te untarei de óleos perfumados
para mitigar-te o cansaço
de séculos e séculos passados.
Para beber, um cálice de sidra quente com canela,
e os olhos perdidos nos olhos à luz duma vela,
duma só vela.
Calarei os gritos de predadores nocturnos,
ecos soturnos da escuridão,
Por ti, mandarei calar o próprio mundo,
comunhão de carne e espírito em silêncio profundo.
Com mãos frescas na tua fronte cansada,
velarei por ti até vir a madrugada,
para que se te cerrem os olhos em serenidade.
Vem, que é hora de despirmos a saudade,
e à luz desta vela,
e só desta vela,
incendiarmos a nossa eternidade.