quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Pastoral














Nasci com ervas daninhas no sangue.
Sigo rasteira no entardecer dos bosques
Em esteira de pinhas secas e cheiros bravios.
O vento traz rumores das vinhas,
E o canto violeta dos pássaros embriagados de uvas e amoras
Soa para lá do riso da sábia ponte.
Pairam no ar finas memórias de sol
Em bocejos de águas.
No silêncio das romãzeiras fecho os olhos e sonho,
Rubros sonhos de então.
No monte o velho moinho continua a caminhada.
Há-de chegar, jura ele, rangendo as suas dores.
Um dia, há-de chegar!
Não sei para onde ele vai, mas acompanho-o.
Lá longe, os pássaros saciados adormecem
Com o meu sonho debaixo das asas.


Foto: Old Mill, Marshall County

Inevitável amor inverno

















Inerte a manhã.
Silenciosos os pássaros
Enredados num vento envelhecido.
Cansada a chuva fria
Moendo as dolorosas pedras
Dos trilhos esquecidos.
Perdida eu
Na conjugação do verbo que
Cessou de existir
No tempo inevitável e sem sentido
Duma manhã inerte.
No perpétuo inverno oculto
Num poema de amor.
Inevitável e inerte.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Noite





A noite escreve ausências na pele.
Minha pele.
Ausência tua.
E a noite derrama-se sobre os dois,
feita líquido silêncio frio.